Cartografia
tátil, voltada à criação de mapas, globos terrestres e maquetes para o ensino
de geografia para pessoas cegas ou com baixa acuidade visual ainda é pouco
difundida no Brasil, aponta estudo (divulgação)
Ensino de geografia para
deficientes visuais
29/05/2012
Por Elton
Alisson
Agência FAPESP – Apesar de já estar muito desenvolvida em termos
mundiais, a cartografia tátil – área da cartografia voltada à criação de mapas,
globos terrestres e maquetes para o ensino de geografia para deficientes
visuais – ainda é pouco difundida em países como o Brasil.
Isso porque as tecnologias existentes no mundo para
produzir esses materiais cartográficos, que podem ser lidos por meio do toque
por pessoas cegas ou com baixa acuidade visual, ainda são muito sofisticadas e
caras, o que impossibilita sua utilização em salas de aula de escolas públicas
no país.
Mas, nos últimos anos, pesquisadores de algumas
universidades no Brasil e de outros países têm se dedicado ao desenvolvimento
de materiais didáticos simples, adaptados para a linguagem cartográfica tátil,
que podem ser facilmente utilizados por professores e alunos do ensino
fundamental e médio.
As experiências dos principais grupos de
pesquisadores do Brasil e do Chile que realizam estudos na área de cartografia
tátil são narradas no livro Cartografia tátil: orientação e mobilidade às
pessoas com deficiência visual.
A publicação reúne artigos de pesquisadores da
Universidade Tecnológica Metropolitana de Santiago do Chile (UTME), Universidade
de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade
Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de
outras instituições.
“Apesar de materiais cartográficos táteis serem
produzidos desde o início do século 19 em nível
mundial por professores, pais e voluntários, essa
área ainda é pouco conhecida no Brasil e na América Latina, mesmo no meio
acadêmico”, disse Maria Isabel Castreghini de Freitas, professora do Instituto
de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
campus de Rio Claro, e uma das organizadoras do livro, à Agência FAPESP.
Por meio de um projeto de pesquisa,
realizado com apoio da FAPESP, os pesquisadores da Unesp de Rio Claro
desenvolveram nos últimos anos maquetes, mapas e jogos didáticos, adaptados
para a linguagem cartográfica tátil.
Os materiais possuem relevo e diferentes texturas,
além de sinalizações em braile e recursos sonoros, para facilitar o aprendizado
de alunos com deficiência visual.
Já os materiais didáticos para os estudantes com
baixa acuidade visual possuem cores fortes e tamanho de letras aumentadas e
podem ser utilizados tanto por deficientes visuais como por alunos que não
possuem problemas de visão, visando a integração dos estudantes em sala de
aula.
“O objetivo é que esses materiais táteis sejam
utilizados em atividades e aulas integradas, reunindo estudantes cegos ou com
baixa
visão com os que enxergam, conforme as diretrizes
das atuais políticas de inclusão de alunos com necessidades especiais na
educação infantil e no ensino fundamental”, explicou Freitas.
Inicialmente, os materiais são desenvolvidos em
laboratório, com base no conteúdo dos cursos de geografia nos diferentes níveis
do ensino. Depois são levados para escolas com alunos cegos ou com deficiência
visual, para serem testados e aprimorados com ajuda dos próprios estudantes e
dos professores.
Noção de espaço
Aos professores são oferecidos cursos de formação,
em que eles aprendem a utilizar o programa de computador Mapavox, que
possibilita incluir dispositivos sonoros em maquetes e mapas.
O software foi desenvolvido pelos
pesquisadores da Unesp em parceria com José Antonio dos Santos Borges –
pesquisador do Núcleo de Computação Eletrônica (NEC) da UFRJ, que criou o
primeiro sistema para auxiliar pessoas cegas a usarem computador, o Dosvox.
“Quando desenvolvemos os materiais, percebemos que
eles eram um pouco limitados em termos de possibilidade de exploração pelos
alunos cegos ou com baixa acuidade visual e que, se além das diferentes
texturas eles possuíssem som, seria possível aumentar a interação dos estudantes
com os materiais. Por isso, procuramos o professor Borges e propusemos que ele
desenvolvesse um sistema de materiais didáticos com recursos sonoros”, contou
Freitas.
Por meio de comandos específicos, o sistema
computacional permite acionar sons em uma maquete, mapa ou um jogo didático
conectado a um computador, facilitando a orientação de um estudante cego na
exploração do material didático que, até então, só ocorria pelo tato, ampliando
suas possibilidades de percepção e sua compreensão do espaço.
Ao percorrer uma maquete de uma praça central de
uma cidade, por exemplo, o estudante pode tocar botões que emitem sons do sino
de uma igreja, do barulho de uma fonte de água e da música tocada pela banda de
um coreto.
“São mensagens e sons curtos que têm algum
significado para estudantes cegos. Nosso maior desafio neste
trabalho é entender como eles adquirem a noção de espaço, que é
fundamental no ensino de geografia”, disse Freitas.
“Para isso, começamos utilizando maquetes da sala
de aula, da casa e do caminho que percorrem para vir à escola de modo a
entender como concebem o espaço e o ambiente ao seu redor”, disse.
- Cartografia tátil:
orientação e mobilidade às pessoas com deficiência visual
Organizadores: Maria Isabel Castreghini de Freitas e Silvia Elena Ventorini
Lançamento: 2011
Mais informações: http://loja.livrariadapaco.com.br/cartografia.html
A sugestão de brincadeiras a serem desenvolvidas em sala de aula nos faz pensar um pouco na aplicabilidade da LUDICIDADE no processo ensino aprendizagem na proposta inclusiva.
ResponderExcluirPatricia Monteiro